segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Entrevista | Thomaz Koch

Entrevistamos Thomaz Koch, o maior jogador da história do tênis antes de Guga, ele fala um pouco sobre as aventuras de ser tenista nos anos 60, conta de como foi doído ver o Brasil perder para Índia na Davis e da alegria de ver Guga, tri campeão de Roland Garros. E dá um recado a Thomaz Bellucci: "Acho que Belluci foi injusto com seu treinador anterior João Zwetsch".


Confira:


# Como era o tênis no seu tempo ? As viagens eram mais difíceis, não ? E os patrocínios ? E o calendário ?
Eu tive muita sorte na época que joguei. Jogar tênis no exterior era uma aventura. Começava a disputar o circuito no início de abril ou maio na Europa e lá ficava até agosto/setembro. A ida para a Europa só era possível para quem fazia parte da equipe da Copa Davis, que na época era dividida em zonas. A que o Brasil participava era a zona européia, daí a chance de ir e ficar na Europa jogando por 4 ou 5 meses seguidos. Vivi o tênis amador no início dos anos 60, depois o tênis de transição ou marrom como era chamado e finalmente o tênis profissional de 68 em diante.
A transformação foi enorme. No início éramos teleguiados por nossas federações e aos poucos nos tornamos independentes das federações para ficarmos reféns da ATP, que foi criada no início dos anos 70, e que teoricamente seria regida pelos tenistas.
Patrocínio? Esquece, não existia, no máximo recebíamos material de tênis como raquetes, roupa, calçado. As passagens era caríssimas, razão pela qual só se podia ir uma vez por ano a Europa( por conta da cota de passagens da Davis) e eu ainda disputava o circuito do Caribe em janeiro e fevereiro, depois de jogar o torneio de Orange Bowl(juvenil) patrocinado pela cidade de Miami (compreendia passagem e estadia em casas particulares).


# Como você define sua carreira ? Acha que conquistou tudo que queria ?
Minha carreira foi longa, porém prejudicada por uma lesão nas costas. Foram cinco anos de sacrifício, dos 25 aos 30 anos, muito difícil de jogar por causa das dores e limitação física, foi quando decidi por uma cirurgia. A recuperação posterior foi demorada, mais ou menos um ano. É claro que sempre achamos que ficamos aquém do que gostaríamos em termos de realização, mas vendo como um todo, acho que foi legal, muitas alegrias, tristezas, frustrações o dia a dia típico de um tenista. O resultado final foi bastante positivo.

"O tênis brasileiro teria muito a melhorar no dia que usassem a experiência dos ex-tenistas de Copa Davis"



# Como foi para você, o melhor tenista brasileiro da história antes do Guga, ver ele tricampeão de Roland Garros e nº 1 do mundo ?
Ver Guga, campeão de Roland Garros foi uma emoção, uma alegria indescritível, foi como soltar um grito por tanto tempo engasgado. E depois duas, três vezes campeão, mas emoção igual ou maior foi a conquista do nº 1 do mundo em Lisboa em cima de Sampras e Agassi.


# E na Davis, como foi para você, que é um dos maiores jogadores da história da Davis, ver o Brasil ser eliminado pela Índia ? Doeu para alguém que chegou na semifinal da competição ?
Perder da India, naquelas condições, ainda não deu para digerir. Ganhar de 2-0 no primeiro dia e depois não ganhar mais nenhum set nos tres últimos jogos, foi muito pior do que perder do Equador em casa. Até agora está travado, engasgado, vai precisar de um resultado muito bom para esquecer esse pesadelo. Quando nós estivemos na Índia (66) jogando a semifinal da Davis, perdemos no quinto set do quinto jogo depois de quatro dias de luta.


# E hoje, como foi trocar a raquete, pelo microfone, ser comentarista é mais fácil, não ?
Gostei do microfone, mas ele está longe de mim. Fazem uns cinco anos que não faço mais comentários na televisão. Jogar tênis é melhor, mas na falta de um, o outro é bem legal!

# Conte-nos um pouco sobre seus projetos.
Não tenho nenhum projeto definido para o próximo ano.

"Acho que Belluci foi injusto com seu treinador anterior João Zwetsch. Nunca havia alcançado tamanha projeção, resultados, ranking como nesse ano."



# Você vem organizando eventos femininos, com está sendo ? Há muita dificuldade para arrumar patrocinadores ?
Não estou organizando nenhum torneio, acho que você está confundindo a Koch Tavares comigo. Já fazem mais de 30 anos que não tenho mais nada a ver com aquela firma de promoções e não gosto de falar nisso porque até hoje usam meu nome a minha revelia.


# Como você acha que o tênis brasileiro pode melhorar ?
O tênis brasileiro teria muito a melhorar no dia que usassem a experiência dos ex-tenistas de Copa Davis, e os que trilharam o caminho árduo do tenista, desde o início até a disputa dos torneios internacionais, seja como treinadores, dirigentes, consultores junto a CBT e federações, enfim que fossem escutados para ajudar, servir como atalho na carreira dos futuros tenistas. Isso quase não acontece aqui no Brasil, e é o grande trunfo de países como França, Argentina, EUA.

# Recentemente, o ex-tenista Alexandre Simoni escreveu um texto, alegando que os ex-jogadores não são consultados para melhorias no esporte, o que você acha ? Concorda ?
Exatamente como Simoni falou, está coberto de razão.

# O que você achou da contratação do Larri Passos pelo seu xará, Thomaz Bellucci ?
Acho que Belluci foi injusto com seu treinador anterior João Zwetsch. Nunca havia alcançado tamanha projeção, resultados, ranking como nesse ano. Joãozinho não foi valorizado como devia, não gostei.

# Você acha que a TV aberta dá pouco espaço para o tênis, como isso poderia ser melhorado ?
Quanto ao problema da TV aberta, fechada, o problema maior é que não temos quadras públicas para a população brincar de tênis. Tênis naTV é muito bom, mas de que adianta se as pessoas não tem onde jogar?

# O que você falaria para alguém que está começando a carreira agora ?
Quem estiver começando: acho importante a criança praticar mais de um esporte, gostar do que está fazendo, e depois para aqueles que queiram seguir jogando, inclusive como carreira, é necessário muita humildade, persistência e continuar curtindo aquilo que estão fazendo e ir atrás da melhoria técnica, física e mental em vez de ranking e resultados, tudo isso será consequência e não um fim em si.

Um comentário:

  1. Grande Thomaz! Tive o prazer e a honra de narrar tênis com ele comentando, por outro lado o prazer de tê-lo como comentarista convidado, ao lado de Marco Alfaro, num jogo de hockey da NHL, valendo Stanley Cup e tudo mais! Esta acho que poucos lembram.

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